sexta-feira, dezembro 09, 2011



Aquando do badalar do sino que lateja num zumbido nos ouvidos de quem não consegue deixar a noite tomar conta de si, heis que surge a imagem lívida, nua e crua da existência intocada da alma que vagueia no seu cordão-de-prata fino e frágil. Ela é envolta no breu que a Lua disfarça e os pés tocam a água gélida do lago que a reflecte, negro e silencioso, envolve-a enquanto desliza por entre pequenos lençóis aquosos de vazio. Não havia pedras que lhe pesassem os bolsos, mas havia pêndulos que lhe prendiam os movimentos do espírito que vivia atormentado. Não era nada, nem vislumbre, nem sombra do que almejara ser. Perdera-se em trivialidades mundanas e banais e tal qual a sua escrita, tornara-se redundante. Não havia luzes nem câmeras, não havia sinais de terras longínquas do norte pautadas por um frio demasiado saboroso na sua cara pálida de faces rubras de rosa. Não havia saída visível e tudo se tornava mais frio, mais escuro e mais dormente. O nível da água só deixava ver-lhe os olhos cinzentos e com um último olhar ingénuo de criança para a Lua que sempre a protegera de monstros e demónios, fechou os olhos e imergiu. O silêncio tomou conta do que quer que ela fosse e o tempo sem luz engoliu-a para todo o sempre. O ser já não era.