terça-feira, janeiro 01, 2013



No caderno negro da Moleskine da saga mais nerd da história da humanidade escreveu as últimas palavras que lhe iam no espírito relativamente ao ano que estava quase a cessar a sua existência. Dois mil e doze tinha sido demasiado intenso e precisava de extravasar todos os altos e baixos, pesar ambos os lados da balança e perceber que apesar do  saldo apontar para negativo, o desfecho avistava o oposto. O caderno de páginas de papel reciclado com o seu tom característico amarelado era agora tingido de negro com dedos velozes, só queria pôr os factos em papel, olhar para eles uma última vez e fazer o exercício mental de que "Este capítulo fechou-se. Acabou. Não há mais espaço para mágoas, remorsos ou incertezas." Tudo acabara por correr e ficar bem, pelo menos o ano permitiu-lhe sentir e ver isso. Por entre os acontecimentos que ela achava terem sido erróneos mais de metade tinham-se revelado experiências enriquecedoras e com finais felizes, tudo para adicionar à sempre aprendiz e voraz alma. 
Leu o texto em voz alta, a língua mãe não era praticada tanto quanto ela gostaria devido à situação geográfica, mas, mesmo assim, achou que ainda não tinha perdido o "jeito". Olhou para as páginas agora cheias de letras de cunho próprio e fechou o caderno.
Inspirou o silencio do quarto de janelas largas e solarengo e sorriu.

Feliz Ano Novo.




quarta-feira, agosto 29, 2012




People have scars. In all sorts of unexpected places. Like secret roadmaps of their personal histories. Diagrams of all their old wounds. Most of our wounds heal, leaving nothing behind but a scar. But some of them don´t. Some wounds we carry with us everywhere and though the cut´s long gone, the pain still lingers.

By Nessie Lawrence


terça-feira, julho 17, 2012



Long time no see...

Revisito este lugar virtual de quando em vez e viro as páginas da alma que por aqui ia escrevendo e é, assustador. Olhar para os anos e meses que aqui ficaram gravados é quase como roçar a bipolaridade. 
É um cliché, convenhamos que sim, mas eu nunca imaginaria que em meia-dúzia de anos tanta novela mexicana, venezuelana, brasileira, inglesa e portuguesa se passasse. Mas é suposto ser assim, certo? Olhar para trás, ficarmos surpresos com o que vemos e aprender com tudo o que aconteceu. 
É um ciclo vicioso, vai acontecer o mesmo a cada ano que passa e cada vez mais com o juntar dos anos, haverão sempre mudanças, pessoas que deixarão de existir na nossa existência e lugares que guardaremos como memórias que assim permanecerão. Não há nada de fatal ou deprimente neste raciocínio, há um aceitar, um compreender que a razão de aqui estarmos é a de passarmos por novas quimeras, novas dores e sobreviver a tudo isto com a maior calma e classe possível, porque quando o último fôlego for libertado haverá um alívio imenso que se seguirá de uma ansiada ida a "casa", na qual não existe dor nem preocupações, quase como que férias de Verão e, onde também, teremos de mais uma vez escolher um novo "invólucro" para voltarmos a passar por tudo isto de novo e juntar ao nosso conhecimento, ao nosso livro de recortes mais e mais recortes. Não somos perfeitos, nunca seremos, mas somos tão belos na nossa própria imperfeição. Não acumular raiva nem rancores, é o mantra a reter aqui, porque estes dois sentimentos coíbem-nos de avançar, roubam-nos as cores e emergem-nos no silêncio que é o nosso ego. Calma e classe, só e apenas...




terça-feira, janeiro 10, 2012




When you´re broken, it´s like you feel a herd of souls trying to get across the crack, trying to open it, hurting even more. It is bad enough to be broken and you still have to deal with those people trying to get a glimpse of you broken, looking for blood, scattering for ripped skin and open muscles and you stand there, untouched, immobile, bleeding, slowly dying. There a few who are trying to lift you up, take you away, make you safe and away from all the fuss, all the mess, all the noise, all the light, such bright lights that burn your already sensitive eyes. But they hardly succeed and even when they think they´re helping they´re not, they end up hurting more because they don´t understand or see the actual help that is needed. A simple understanding look, a hand on your shoulder, holding your hand, a hug, space, all a broken being needs is space. So please, please, listen to me when I say "I´m broken", back off, leave me be and take your impressions and your "I thinks" with you because all I need right now is space. Respect my space, respect me and do not give your unnecessary opinions on what it is better if you are not the involved ones because it is easy peasy lemon squeazy to talk when you´re talking about others and it does not affect you but when it does affect you personally you do not like to be the talking matter nor the target of all the "I thinks". One favour, one favour only, respect me, that is all I ask, respect me, I know I do respect you...

sexta-feira, dezembro 09, 2011



Aquando do badalar do sino que lateja num zumbido nos ouvidos de quem não consegue deixar a noite tomar conta de si, heis que surge a imagem lívida, nua e crua da existência intocada da alma que vagueia no seu cordão-de-prata fino e frágil. Ela é envolta no breu que a Lua disfarça e os pés tocam a água gélida do lago que a reflecte, negro e silencioso, envolve-a enquanto desliza por entre pequenos lençóis aquosos de vazio. Não havia pedras que lhe pesassem os bolsos, mas havia pêndulos que lhe prendiam os movimentos do espírito que vivia atormentado. Não era nada, nem vislumbre, nem sombra do que almejara ser. Perdera-se em trivialidades mundanas e banais e tal qual a sua escrita, tornara-se redundante. Não havia luzes nem câmeras, não havia sinais de terras longínquas do norte pautadas por um frio demasiado saboroso na sua cara pálida de faces rubras de rosa. Não havia saída visível e tudo se tornava mais frio, mais escuro e mais dormente. O nível da água só deixava ver-lhe os olhos cinzentos e com um último olhar ingénuo de criança para a Lua que sempre a protegera de monstros e demónios, fechou os olhos e imergiu. O silêncio tomou conta do que quer que ela fosse e o tempo sem luz engoliu-a para todo o sempre. O ser já não era.


sábado, novembro 26, 2011



"No fundo somos todos meros reflexos das pessoas que nos rodeiam, das pessoas com quem nos preocupamos, que detêm importancia para nós, que nos prendem ao lugar, que nos fazem entregar por completo de cabeça, carne, emoção e alma, que nos fazem sermos melhores hoje do que eramos ontem, somos meros reflexos do seu melhor, retiramos todas as nossas máscaras a seu redor, desligamos todas as nossas defesas, esquecemos todas as ilusões, somos reais, não sonhos, nem imaginários, somos momentos de mera reflexão, existencia e paixão, existindo no reflexo uns dos outros em completa devoção..

No fundo, não sei se me conheces, reconheces, se me queres até conhecer, somos meras almas a percorrer trajectos paralelos, em caminhos diferentes mas com o mesmo destino. O que me deixa com este pensamento singular, será que estas pegadas na areia que sigo são as tuas, será que caminhaste este mesmo caminho que eu agora percorro? Estarás tu á minha frente, meros passos ou centenas de metros? Sei, confesso, sou confuso, sou um turbilhão, tsunami autentico de emoção, sou simplicidade em toda a sua complexidade, sou metade de ti, sou identico, reflexo, anexo, não persisto, meramente existo, não sou muito, sou mera sombra que vive na tua luz, mero sonho na tua realidade, sou o enxugar das tuas lágrimas, beijo de motivação, bater irregular do coração, não sei se me conheces, mas sou meramente eu .. e vivo nos teus paralelos .."

( Paralelos by J. Ramalho )




sexta-feira, novembro 18, 2011


Percorrem as mãos de pontas de dedos frios a pele quente, sempre quente, rubra de rosa em pele de alabasto. O peito abunda de movimentos menos espaçados e a seda do kimono nota-se fluir entre a curvatura perfeita do peito pálido que ela conserva. As mãos procuram-se e encontram-se por entre o percorrer das linhas que não são rectas, delineando as suas silhuetas entre a luz da lamparina tremeluzente e o papel de arroz minuciosamente encaixado nos quadrados negros das Sakuras. O cabelo dela flui-lhe nas costas pintadas de marcas rouge causadas pelas unhas plenas de desejo dele, fingem saber controlar as mãos que as assiste, mas tudo se esfuma aquando do toque de seda contra a sua pele que já sentiu inúmeros invernos. O incenso arde no pequeno queimador negro e espalha o seu cheiro inebriantre nos sentidos das almas amantes que se perdem em cima do tatami de bambu. Tudo é extremo, tudo é extrapolado, sentido, visto, cheirado, saboreado pelas almas que juraram eternidade. Não é o encontro, mas o acabar de que lhe causa pequenos cortes de papel no espírito, a necessidade inerente de partir, o sentimento de que tudo é efémero e vulgar. Ele puxa-a para o tronco forte dele mais uma vez, agarra-lhe o cabelo que nasce no fundo pálido da nuca e prova-lhe os lábios uma vez mais, uma última vez antes de ter de abrir os olhos para algo que não são os seus olhos cor de chuva. Ela geme de prazer, paixão, Amor e morde o lábio quando as testas se juntam em trocas de segredos desnecessários para o âmago partilhado. Ele olha-a como se quisesse manter aquela imagem imortalizada para todo o sempre nas suas retinas imensas de verde, quieta, frágil, despida de um corpo que escolheu apenas para partilhar com ele. Ele solta-lhe as mãos e recebe-lhe a face delicada entre as mãos enquanto lhe rouba o último beijo e parte por entre o meio da escuridão enquanto ela morde o lábio carnudo, esconde uma lágrima debaixo do dedo indicador e o sentimento que a deixa completamente impotente, o de lhe sentir falta...tamta, tanta falta...