quinta-feira, setembro 21, 2006



Ele deu-lhe passagem, abriu-lhe a porta, o ranger das dobradiças mal oleadas era o único barulho que perturbava o gélido silêncio instalado entre eles. Ela sentou-se com a sua caracteristica delicadesa, o que o extasiou. Como podia ela estar sempre num estado tão sereno? arrepiava. Ele voltou-se para o sol na janela escamada, "sabes porque falamos?" perguntou retóricamente esperando apenas o som do seu respirar, "Porque parece ser a única forma de ouvir a tua voz.". Ela ergueu os olhos lentamente, a luz ofuscava-lhe a transparência azul e tapou com a mão o sol que ardia, "Sabes que prefiro falar a minha linguagem, entendes-me muito melhor quando me olhas do que quando me ouves, mas desvias sempre o olhar quando "digo " algo sério." Fechou os olhos, virou-se, lá estava ela, serena, perfeita, quase intocável, decidiu que não seria hoje, "Não hoje, o gelo ainda não caiu em gota." Ela levantou-se, abraçou-o por trás, agarrou-lhe o casaco e cheirou-o, "Cheiras sempre ao mesmo, indecisão com paixão, começa a ser familiar, no entanto...é o cheiro que me seduz." Virou-se, perdeu-se nos seus olhos cristalinos e disse-lhe, "Se amanhã não me vires, fica sabendo que foste o meu livro favorito."
Saiu, deixando-a sozinha, agora olhava o sol de frente, mas não foi isso que a fez verter a lágrima...

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