A casa era antiga, coberta de tapeçarias da Índia e ornatos orientais. O soalho rangia, talvez condescendente com ela, o que só tornava aquele fim de tarde mais sombrio. "As pessoas tendem a atribuir o seu estado de espírito ao tempo...se ao menos assim fosse...", pensou ela que se sentou na mesinha da janela, aquela cheia de papeis e recordações partidas. Viu que o sol estava quase a meio do horizonte e o vermelho já se trocava pelo azul-escuro lá longe, então acendeu o pequeno abatjour de vitrais, que fazia da sala uma paleta de sombras coloridas. Não falava com ninguém , havia anos que já se cançara de tentar explicar aos outros porque chorava ela, porque tinha um sorriso triste e uns olhos lúgrubes de saudade. De vez em quando ele vinha, tomavam um chá, comiam bolinhos de gengibre feitos no velho fogão de lenha que ela mantivera da mãe. Depois molhavam os pés na relva fresca do jardim, ainda orvalhada, subiam as escadas entrelaçados em longas respirações e deixavam-se vencer pela lúxuria no último degrau. Costumavam acordar na cama debaixo da grande manta de lã e respiravam o cheiro a lavanda dos lençois de linho. Depois ele saia, "tenho de ir, sabes porquê" dizia ele, "voltas? hoje? faço qualquer coisa boa para nós e abrimos um da garrafeira velha...", replicava ela sempre esperançosa.
Tomava um duche longo enquanto ela enrolava os caracois soltos na ponta dos dedos, ainda não tinha perdido o tom enrubescido das faces livias, trincava o dedo de felicidade por o ter ali, passageira, bem sabia, mas mesmo assim, felicidade. Depois leváva-o até à porta embrulhada no seu longo robe de seda pálido e roubava-lhe um beijo sempre temendo ser o último.
Ele não sabia, sempre que ele se ia embora ela chorava, chorava por o querer ali e não o ter, por ser sua mas não tê-lo, por amar...por dois.
Já o sol se tinha posto e, agora, os vidros coloridos sobre a lãmpada aquecida iluminavam-lhe os olhos que hoje decidiram ser cinzentos. Nascera com um estigma bom, sempre que o tempo mudava os seus olhos mudavam com ele. Quando o dia estava muito solarengo e veranesco o verde invadia-a, quando estavam dias de primavera bem frescos o azul era a sua companhia e nos seus tão desejados dias de inverno, o cinzento dominava. Pegou no seu caderno encadernado de cetim bourdeux com a palavra "Notas" debruada a prata no cimo da capa e começou a escrever, a única coisa que ainda mantinha por prazer. Era uma espécie de diário, onde ela, secretamente, para si mesma contava o que sentia, explorava os seus demónios e excomungava sentimentos. Apagou a luz, o bréu invadiu a sala, invadiu o espírito, já não sabia de que cor eram os seus olhos...achou que não valia mais a pena. Estava tudo pronto, tudo satisfeito, o fogão dera já o toque de que os bolinhos de gengibre estavam no ponto, o chá já estava a arrefecer na chávena a embeber o pequeno saco de ervas e a manta e o lençol estavam no sitío certo. Ela não tinha mais porque continuar ali, ela era só um ponto de interesse no inteneráio para casa, pois era para casa que ele voltava sempre. Bateram à porta, a porta não abriu. O telefone tocou, não foi atendido. O coração chamou, não foi correspondido...o amor havia-se esgotado, e com ele...ela.
Tomava um duche longo enquanto ela enrolava os caracois soltos na ponta dos dedos, ainda não tinha perdido o tom enrubescido das faces livias, trincava o dedo de felicidade por o ter ali, passageira, bem sabia, mas mesmo assim, felicidade. Depois leváva-o até à porta embrulhada no seu longo robe de seda pálido e roubava-lhe um beijo sempre temendo ser o último.
Ele não sabia, sempre que ele se ia embora ela chorava, chorava por o querer ali e não o ter, por ser sua mas não tê-lo, por amar...por dois.
Já o sol se tinha posto e, agora, os vidros coloridos sobre a lãmpada aquecida iluminavam-lhe os olhos que hoje decidiram ser cinzentos. Nascera com um estigma bom, sempre que o tempo mudava os seus olhos mudavam com ele. Quando o dia estava muito solarengo e veranesco o verde invadia-a, quando estavam dias de primavera bem frescos o azul era a sua companhia e nos seus tão desejados dias de inverno, o cinzento dominava. Pegou no seu caderno encadernado de cetim bourdeux com a palavra "Notas" debruada a prata no cimo da capa e começou a escrever, a única coisa que ainda mantinha por prazer. Era uma espécie de diário, onde ela, secretamente, para si mesma contava o que sentia, explorava os seus demónios e excomungava sentimentos. Apagou a luz, o bréu invadiu a sala, invadiu o espírito, já não sabia de que cor eram os seus olhos...achou que não valia mais a pena. Estava tudo pronto, tudo satisfeito, o fogão dera já o toque de que os bolinhos de gengibre estavam no ponto, o chá já estava a arrefecer na chávena a embeber o pequeno saco de ervas e a manta e o lençol estavam no sitío certo. Ela não tinha mais porque continuar ali, ela era só um ponto de interesse no inteneráio para casa, pois era para casa que ele voltava sempre. Bateram à porta, a porta não abriu. O telefone tocou, não foi atendido. O coração chamou, não foi correspondido...o amor havia-se esgotado, e com ele...ela.
In Mind Scraps, by Vanessa
9 comentários:
muito triste mas tambem muito bonito, aqui vejo-me assim como te vejo a ti, mas a nossa sorte a nossa sanidade somos nos, uma da outra, aquela que anpara a queda assim como as lagrimas, a que intende a falicidade da outra assim como a dor.
porque o destino assim quis, aqui estou eu para ti, assim como tu para mim, para quando a campainha tocar a porta poder ser aberta
Parabéns!Gostei muito do seu texto :0)
xiça intenso quanto baste, pode não ser mas terá a sua parte verdadeira, assim vivem e assim morrem muitos amores...
...o dia começa de novo.
Ele acorda pelo telemóvel, o seu despertador.
6h00m. Passados 3minutos está fora de casa, ainda com a cara suja da noite que passara em sua casa, sozinho. Não dormira bem, pois estava na hora, de ir ter com ela.
O ser que o fazia andar kilómetros. Não tinha a sua independência, não tinha dinheiro para transportes.
Verão, a esta hora o céu está claro. Existe luz para o caminho, para ir ter com ela.
Se fosse a passos pequenos, iria demorar muito. Foi a correr.
A casa dela estava vazia, não poderia esperar mais.
O mundo deve ter acabado, pois não se vê ninguém na rua.
Já vai a meio e a destruição é inexestente, por isso as pessoas devem estar a dormir.
6h30. 3ºdireito. O coração ainda bate forte, o passo de corrida fez-se bem e a ansiedade foi fácil de controlar. A porta do prédio trintão abre.
Ele não é capaz de esperar pelo maldito elevador, vai pelas escadas, pois ela está à espera.
Ela ouviu as pancadas habituais na porta, levanta-se da cama, com o seu cobertor morno pelo seu corpo.
A porta abre, a manhã ainda se faz lá fora, o amor faz-se dentro do quarto.
Um abraço quente, um beijo de bom dia. Os animais fazem-se ver, a cama faz-se ouvir com os corpos a repousarem os últimos momentos de uma noite mal dormida.
"Eu amo-te" - ele disse.
"Eu muito mais..." - ela sorriu.
Os olhos fechados, os corpos presentes, para todo o sempre.
obrigado por tudo...****
Lido sem contexto, sem dúvida o teu melhor texto. Aqui, em La Japonaise.
Foi um prazer.
Obrigado.
:)
Muito,muito bom mesmo!Acho que andas "bebendo" da fonte teatral do Tenho muito pra contar.Seja como for...estás de parabéns!
Nada como uma blogosfera recheada de mentes criativas,sensíveis e inteligentes!Sorte minha!!!
Um Beijo!!!
P.S: Fieldbrad..o que é isso?Nossaaaa!!Muito bom também! Meus Parabéns! :)
Ah! Esqueci de dizer...hahaha.Tens um "desafio" lá no prateter..coisas & loisas que nos acontecem.looool
Lentamente passo, pois neste novo relato me emocoinei, e por pouco não chorei...
Amores por minha vida passaram, e ainda assim gostaria de te-los vivido mais uma vez com o mesmo viço de seus primeiros meses...
Comovido digo...
E agradeço
venho pela via do amsilva, deparo com uma escrita admiravel, parabéns.
faz o favor de continuar, ok. :)
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