Hoje vesti o meu vestido de inverno, aquele que traça numa malha castanho chocolate e termina em formas geométricas perfeitas. Ando há que tempos a queixar-me do bom tempo, é parvo eu sei, mas faz-me falta o frio de fins de Outubro, o meu Outono, o que antecede o meu Inverno. Quero o frio matinal de esconder as mãos nos bolsos, o casaco que já agasalha e os sapatos quentes de salto. Visitar velhos amigos que já não estão lá, mergulhar na nostalgia, percorrer os mesmos corredores, sair na mesma porta, andar na mesma rua, a das 17 apitadelas, a do stand da smart, a do autocarro que já não pára lá. Descobrir que já não somos como elas, o nós de antes, somos o up-grade, para quê diz-me? para sabermos como se escreve um artigo? como cheira o Alentejo? Como é o mar de Odeceixe? As lágrimas de desespero, o choro feio que nos contorce a cara de raiva e dor, os sorrisos das noites de pés descalços no alcatrão quente de um Agosto das 4h da manhã. Para sabermos como são os traçados do bairro, para ainda não sabermos o que se esconde por trás do portão grande da rua das conversas, para abusar das chamadas grátis da vodafone nas madrugadas do Princípe Real. Percebemos que amar é fantástico, fantabulástico, magnifíco e muito mais, inexplicavél, indisível, mau, picuinhas, chorão, chato, parvo, estúpido, confuso, labirintico, cliché! Só e apenas isso, um cliché.
A chegar a casa a chuva começou a cair, chegou e molhou o meu vestido de inverno, molhou o meu cabelo e a minha cara, a minha alma que ansiava por ventos novos, os pés frios mergulhados em àgua quente ao chegar a casa, o roupão em cima da cama, o chá morno, o cheiro a jasmin e chá verde do meu incenso. O frio chegou, estou em casa, e sem ti, outra vez.