In “Capitalismo e Globalização”
Quando Karl Marx formulou as teorias sobre o capital não imaginou as voltas que o mundo lhes iria dar. Por exemplo: estaria ele de acordo com esta concepção a que chamaremos simplificadamente de capitalismo ideal?
Você tem duas vacas.
Vende uma e compra um boi.
Multiplicam-se e a economia cresce.
Você vende a manada e fica rico.
Aposenta-se.
Talvez concordasse desde que todos pudessem fazer o mesmo, digo eu. Mas actualmente, com a globalização e as adaptações às culturas regionais dos vários países e regiões, será que se mantinha a bondade e a pureza conceptual acima expressas? É um estudo sociológico e económico interessante... Testemos pois, aplicando a situação da posse da parelha bovina a casos concretos. Comecemos - obrigatoriamente, claro está - pelo capitalismo americano:
Você tem duas vacas.
Vende uma.
Força a outra a produzir o leite de quatro vacas.
Fica surpreendido quando ela morre.
Capitalismo japonês:
Você tem duas vacas.
Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam vinte vezes mais leite.
Cria desenhos de vaquinhas chamados VAQUIMON e vende-os para o mundo inteiro.
Capitalismo inglês:
Você tem duas vacas.
Ambas são loucas.
Capitalismo holandês:
Você tem duas vacas.
Elas vivem juntas em União de Facto, não gostam de bois e estão no seu direito.
Capitalismo alemão:
Você tem duas vacas.
Elas produzem leite regularmente segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecidos, de forma precisa e lucrativa.
Porém, o que você queria mesmo era criar porcos.
Capitalismo russo:
Você tem duas vacas.
Conta-as e vê que tem cinco.
Conta de novo e vê que tem quarenta e duas.
Torna a contar e verifica que afinal só tem doze.
Pára de contar e abre outra garrafa de vodka.
Capitalismo suiço:
Você tem quinhentas vacas mas nenhuma é sua.
Cobra uma comissão para tomar conta delas.
Capitalismo espanhol:
Você tem duas vacas.
Tem muito orgulho nelas.
Capitalismo indiano:
Você tem duas vacas.
Ai de quem tocar nelas...
Capitalismo brasileiro:
Você tem duas vacas.
Reclama porque a manada não cresce.
Capitalismo português:
Você tem duas vacas.
Uma delas é roubada por alguém - até hoje não se sabe quem.
O Governo cria o IVVA - Imposto de Valor Vaccum Acrescentado.
É multado por um fiscal porque, embora você tenha pago o IVVA, o valor de cálculo era o número presumido de vacas e não o número real.
O Ministério das Finanças através de dados presumidos do seu consumo de leite, leite, sapatos de couro e botões presume que você tem duzentas vacas.
Para se livrar do sarilho oferece a vaca que lhe resta ao inspector das Finanças para que ele feche os olhos e dê um jeitinho...
Por ocasião de um trabalho de Ciências da Comunicação:
A idéia de capitalismo é genial, é deveras genial, Mas lá está, a teoria, a prática. Num capitalismo ideal todos teriam a sua “vaca” e ela produziria precisamente o necessário para que cada um de nós vivesse bem e feliz. Contudo, há sempre alguém que se acha mais esperto que o sistema. O capitalismo em si é uma máquina, dinheiro gera dinheiro e não há nada que a humanidade aprecie mais do que dinheiro. Dinheiro é símbolo de poder e é no poder que todos queremos estar. Ora veja-se, o mundo é regido por chefes de estado ( ou pseudo-chefes de estado, como o Bush). Temos países pobres, países remediados e depois temos os G8, as potências mundiais que retêm os valores líquidos mais cobiçados pelo PIB. Num panorama perfeito, o capital estaria bem distribuído e não haveria diferença de classes, como acreditava Marx, numa sociedade livre de classes e munida de igualdade entre os homens. Depois algo aconteceu, quando parecia que caminhávamos para uma rota preterida heis que surge o génio do mal do século XX, Hitler. Voltando um pouco atrás, vejamos, foi quando rebentou a loucura de Hitler na sua conquista pelo mundo que o mesmo se começou a “afundar”. A economia dependia quase toda dos passos de Hitler, e a guerra despoletada gerou grandes ascenções e riquezas, como é o caso dos Estados Unidos da América, que ganhou bens através da venda de armamento e mantimentos para uma Europa mutilada. Boltanski, na sua crítica anti-capitalista pretendia alertar, abrir os olhos a uma sociedade onde primava a burguesia e onde o povo, a classe operária, matava-se a trabalhar por uma riqueza que nunca veriam, já que essa riqueza era sugada pelos patrões e políticos corruptos. É claro que este tema leva, mais uma vez, ao maior problema da humanidade, o egoísmo. Podíamos ser todos felizes e iguais a todos os níveis? Podíamos! Isso acontece? É óbvio que não! Porquê? Porque vai haver sempre alguém, algures que se achará mais esperto que o vizinho e enriquecerá às suas custas. Deparamo-nos com uma a crítica social, desenvolvida pelo movimento operário tradicional, que denuncia a exploração dos trabalhadores, a miséria das classes dominadas, e o egoísmo da oligarquia burguesa que confisca os frutos do progresso, a crítica artistíca, apoiada em valores e opções de base do capitalismo, e que denuncia, em nome da liberdade, um sistema que produz alienação e opressão. Acho que devia haver um novo mote “mi casa, su casa” – “mi vaca, su vaca”. Talvez assim todos bebêssemos a mesma quantidade de “leite”.
By, Vanessa Lourenço.