sexta-feira, janeiro 23, 2009





Eu era tão pequena, era um calhau aos rebolões. [ Esta tinha de ser não é? ] Tinham-me dado um brinquedo com o qual nunca brincara antes, um coração de verdade. Não daqueles que vêm nas Barbies e que funcionam a pilhas, este batia mesmo, e batia tanto. Depois parou, durante três dias permaneceu morto, não havia reanimação possível, estava submerso à demasiado tempo. Mas foi salvo, foi...salvo. Pela mesma pessoa que o havia afogado. Eu.
Quando achamos que já não precisamos de fisioterapia começamos a correr novamente e foi o que fiz, corri como se tivesse um coração de leão. Não tenho. Que novidade. Deram-me um coração novo, tinha um ou dois cortes mas estava bem. Batia ávidamente e estava pleno de sentimento. Este coração teve imensos incidentes, paragens, cortes, sangramentos, mas continuava lá, batia, mantinha-se vivo, lutava por bater só mais uma vez, apenas uma, só uma. Morreu. Não bateu mais. Decidiu que já não havia artérias e veias que o segurassem. E foi o que fez, deixou de bater. Não havia mais pum pum, não havia nem um pum quanto mais dois...que ousadia de pedido, bater de novo, era o que mais faltava. Ele não tinha vida para isso, o que acabou por ter o seu sentido literal. Esta verborreia de analogias e metáforas e figuras de estilo encavalitadas para dizer que vai parar. O outro virá, mas só depois da queda, para ter a certeza que não vem em vão. Vou dar um passo para o abismo, na certeza de que se as minhas asas não abrirem as tuas abrirão por mim e que se tiver de cair és tu que vais estar lá em baixo a segurar-me a cabeça ensanguentada contra o peito. És tu que não me vais deixar entrar no abismo decadente, aquele que nem eu conheço e não quero conhecer. Eu espero acordar na cama do hospital com gesso no peito e com dificuldades em respirar, olhar para o conta-gotas e ouvir o "pi pi pi pi pi" que me diz que ainda bate, e se não bater que é o novo. Olhar para o outro lado e ver-te lá com o maior sorriso desde Hades e Pandora. Se eu me esquecer do porquê de estar ali, não me lembres, porque a memória atinge-me demasiado depressa.
Vou fazer um iglo do edredon e da cama o meu chão, esconder os olhos melancólicos da luz temerária do dia e fingir que o que ouvi não foi uma buzina lá fora, nem o vento nas portadas. Vou entrar na crisálida e de lá só saio quando tiver a certeza que estas são as cores certas para as asas. Mas olha para mim, percebeste alguma coisa do que disse? Isto é tão estranho, esta sensação do depois, esta pergunta irritante do "e agora?"...e o mais irritante é que é retórica. Não controlo bem o que me sai pela ponta dos dedos, mas sei que no final a tua alma está à minha espera para outra volta na roda. Posso pedir-te um favor? Tira-me do carrocel, porque desta vez vou mesmo vomitar.



4 comentários:

Thiago disse...

Desta vez tenho k dizer..... o quê???

No meio desses "pi pi pi pi" e dos "pum pum"(que mais parece as flatulencias do J ahahaha).

Mas agora falando a serio, se algo se passa tens os teus amigos, e se as asas te falharem, eu empresto-te as minhas. Não são de anjo, mas tb os demonios têm coração, embora frio ahahaha.

Beijo menina do edredon *****

AmSilva® disse...

Mas explica lá uma coisa; mataram-te o coração ou foi suicidio???
Mas não acreditas nessa coisa que te dão um coração novo, isso é treta, o que podes (e tens a fazer) é reparar o que tens!
Senão imagina, o que dão já é um recuperado, sim porque hoje em dia não se fazem novos, reciclam-se os velhos, mas não os testam, e se vem com defeito?? Por exemplo demasiado sofrido? ou quem sabe mesmo fechado??
Recicla esse, dá-lhe folga por um dia, mete-o á máquina, vê o que podes reparar, o que não der arruma bem lá num cantinho, pode ser mesmo no fundo, ao lado das coisas boas, e vais ver que cada vez que lá fores espreitar o que arrumaste, menos vezes vais ver o que fazia mal aí dentro!
Um beijo, dos

Maria disse...

Irrevogavelmente por cá.*

T.E. disse...

conseguiste pôr-me tonto...