
Comprei incenso, desta vez de cheiros que reportam para o reconforto quente, Butter Rum Cake, Cappuccino Coffee, Chocolate Moccha e Vanilla Bean. Chego a casa, já de noite, penduro o casaco, pouso a mala na cadeira de verga, aquela que a mamã me deu quando tinha cinco anos, ás vezes ainda me sento nela, o som da verga lembra-me a infãncia. No quarto esperam-me o roupão quente em cima da cama, feita de lavado, ligo o maldito vicio do computador, acendo o incenso, desta vez cappuccino coffee. Ligo a água, ponho música, jazz ou café del mar, deixo cair o roupão e mergulho na mistura de sais e óleo de ameixa, a excomungar stresses e espiritos interiores revoltados. Deixo-me vencer por uma alma irrequieta que teima em usar do seu cordão de prata e a água quente do banho é o portal perfeito para mundos desconhecidos, os meus. Renasço de pele engelhada, tiro a tampa da banheira e deixo-me ficar até à última gota resolver desvanecer-se. A toalha roubada do aquecedor e o meu quimono de seda escorregam no óleo de ameixa, e eu sinto-me retornar de um longo, longo, longo caminho.
Por entre baldes de tinta verde e cian escuro e rodapés e cera para o chão, o pesadelo de alguém que altera o quarto, cinco idas (in)voluntárias ao AKI por dia, o que é um pequeno salto para a loucura, quase oito dias depois de ter pegado na minha malinha e ajudado nesta quimera do design, voltei. Saudades, muitas, do cheiro da minha casa, das fotografias imóveis das molduras, do relógio de parede, o que trouxe de Paris, que parece roubado de King's Cross, das visitas obrigatórias, e estas, voluntárias aos pedaços de vida que adoro ler, os blogs. As fotos de um Outono tardio, de lembranças de cabeças antes amarelas, dos mesmos olhos, mais brilhantes agora que o Inverno chegou.
Sentes o cheiro? Cappuccino...